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É kinda pretensious dizer que se é artista. Sou menos artista que Bukowski ou Fernando Pessoa. Sou mais artista que Gianechini ou Debora Seco... Somewhere in the middle. Sou atento ao mundo e busco sempre descrevê-lo de alguma forma e com algum tom de lirismo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Treze anos

Treze anos.
Ela tinha apenas treze anos.
Acabara de fazer treze anos.
Voz de menina, espinhas espalhadas pelo rosto.
E não é que de repente apareceu-lhe seios! Pequenos. Mas estavam lá.
Era com espanto que ele via sua filha, de repente, gostando dos Beatles.
Mas tudo bem. Quem não gosta?
Ontem, voltando de viagem, ele comprou para ela um telettubie de pelúcia. Foi uma festa.
Hoje, ela passa pelos corredores cantando em alta voz “Why don´t we do it in the road”. O telettubie está enterrado em algum armário de entulhos. Entulhos do passado.
Ele não consegue acompanhar essa transformação. Revolução. Sua filha não brinca mais. Passa horas a fio “conversando” pelo computador. Com quem conversa? Sobre o que?
Quando os amigos estão em casa e ele passa, ela sente vergonha do pai.
“Fase louca” pensou ele.
Mas esse estado passivo de perplexidade veio a mudar drasticamente.
Foi quando um dia recebeu notícias anônimas - do seu filho mais velho – que tomasse cuidado com um tal de *** que vinha conversando demais com ela pela internet. E o pior: o tal *** tinha dezoito anos.
Dezoito anos!!!
Assustou-se um pouco mas terminou acalmando-se pois, afinal, não havia o que temer. Ela era definitivamente pequena demais para qualquer coisa de errado.
Mas o golpe final veio logo em seguida: descobriu, pela mesma fonte anônima, que as últimas duas vezes que ele tinha ido deixar sua filhinha no shopping para ver um filme com uma amiga, a “amiga” não era outra pessoa que não ***.
Ele ficou maluco.
Maldisse nove gerações para cima e para baixo do coitado do ***. Jurou que nunca mais permitira a sua filha alguma ida sozinha ao shopping. “Meu bebezinho com um velho safado de dezoito anos!”. Ficou andando nervoso de um lado para o outro imaginando sua filha andando de mãos dadas pelo shopping. Foi quando tudo congelou, seus músculos todos se contraíram. Viu tudo em preto e branco e pensou: “Meu Deus! Será que aquela criatura abjeta, sem escrúpulos e amor à vida OUSOU dar um beijo em minha preciosinha?”.
- “Ôo, pai...” - fez sua fonte anônima de informações. “Claro né!”.
Era demais! Colocou sua mão direita no coração, tentando conter um iminente ataque. Mexia o rosto nas direções mais diversas, a boca entreaberta, tudo isso em slow motion.
Tomou uma decisão séria em relação a ***: Iria castrá-lo e jogá-lo do precipício.

Não teve coragem de ir falar com sua filha sobre o acontecido. Ela soube que ele sabia pela mãe, que muito se divertia com a situação. “É a idade, querido..”
- IDADE?!!! – gritou ele, andando de um lado para o outro do quarto enquanto destruía um pacote de Mentos - Você quer me falar em IDADE?!! Isso é uma puta falta de absurdo!!
- Querido, a gente começou a namorar quando eu tinha a idade dela.
- Mas era diferente! No começo a gente só pegava na mão. Pelo menos por... sei lá... cinco anos!
- Claro que não! A gente se beijava no portão o tempo inteiro.
- Você está de que lado?!!! Posso saber?!!! Hein?! Posso saber?!!

O convívio em casa ficou meio arredio nos dias que se seguiram. Ele passava pela sala e lá estava ela no computador conversando com o desgraçado. Quando ela sentia sua presença, fechava a janela da conversa. O que estariam eles conversando? Imaginava todo tipo de obscenidade, absolutamente indigna do tesourinho dele de treze aninhos.
Chegou uma vez por trás dela. Ela fechou rapidamente a janela.
- Que é que vocês estão conversando?
- Nada. Ela respondeu.
Ficou por isso.

Não conformado, obstinado em saber o que eles conversavam e consciente de que não havia meios corretos para descobrir o que queria, decidiu apelar para o Plano B. Já que os escrúpulos haviam sido abandonados há muito tempo, pegou sua máquina fotográfica recém-comprada com zoom de 24x, postou-se do outro lado da sala, tomando cuidado para não ser visto pela filha, e tirou uma foto do monitor do computador.
Correu para o seu próprio computador e importou a foto.
O que estariam eles conversando? Estaria ele narrando seu grau de excitação ao lembrar do beijo seu? Estariam eles combinando uma fuga furtiva para ficarem juntos sem sua autorização? Mal conseguia conter sua ansiedade, prevendo um grande desgosto.

Quando ele abriu a foto, não viu o que esperava. O que eles diziam parecia ser retirado de uma conversa de criança. Falavam de peixes que eles já haviam visto na praia, águas-vivas, ataques de tubarão. Se era algum código cifrado estava fazendo muito bem seu papel.
De súbito, o pai sentiu-se desarmado. A inocência por trás do diálogo que ele espreitara chegou quase a o comover. Sua filhinha, seu bebê, estava paquerando! Estava experimentando pela primeira vez as delícias do sentimento da paixão. Lembrou-se de como era ter treze anos. A ânsia pelo desconhecido, o frisson da insegurança... “Uma adolescente em seus primeiros desejos” como diria Moustaki...
Passou um momento imóvel diante da tela do seu computador.
Um sentimento de carinho o invadiu.
Repensou sua decisão: não o castraria mais.
Apenas o jogaria do precipício.

5 comentários:

  1. Engraçado como acabo de ver meu pai em seu conto.

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  2. Muuuuito dramático
    aseiuaseiouaseoiuasieousa
    EuRi

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  3. Quero uma camera dessas *-*
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

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  4. Ah, entendo bem isso. Gostei muito da forma que vc se expressou, inclusive, usando expressões do tipo 'velho safado'.Não entendo essa de ´achar um absurdo´ esse termo, se sempre se usou tantos palavrões ou palavras idiotas para expressar um sentimeno e tal..

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