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É kinda pretensious dizer que se é artista. Sou menos artista que Bukowski ou Fernando Pessoa. Sou mais artista que Gianechini ou Debora Seco... Somewhere in the middle. Sou atento ao mundo e busco sempre descrevê-lo de alguma forma e com algum tom de lirismo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estive em Paris e pensei em você...

Estive em Paris e pensei em você.
O Boulevard St-Michel estava do jeito que você gosta. De baixo de neblina, não tão cheio.
Entrei num café e estava tocando, numa velha radiola, um disco de Moustaki.
Sentei-me. Nem tirei meu casaco.
Respondi ao garçom com meu francês definhado “hã cafê”, e ele partiu logo, sem nada dizer.
Novamente só, peguei-me a aproveitar a situação de estar pensando em você novamente. Sabia já há algum tempo que minha viagem a Paris não me ajudaria muito na tarefa de te esquecer mas confesso que estava surpreso com minha passibilidade até aquele momento. Até então, havia conseguido me distrair muito bem com as meninas do Ste. Gertrudes e as noitadas no Nicos, uma casa noturna de segundo escalão numa perpendicular da Champs Élisées.

E, no entanto, entrando naquele café, naquele dia nublado e parado, você abruptamente invadiu meus pensamentos. Era como se eu entrasse no seu quarto depois desse tempo todo e visse de novo todos aqueles objetos meticulosamente organizados em cima de suas estantes, mesa, e cama. A primeira rosa que eu havia lhe dado, seca e guardada dentro de um papel-seda cor cenoura. Uma porta-retrato com nossa foto na Serra do Catolé (que já não devia estar mais lá...), seu livro de contos de Clarice Lispector, todo usado, quase rasgado. E Bob, o panda de pelúcia cujo nome era eternamente provisório.

Fui me lembrando aos poucos dos acontecimentos. Nosso primeiro encontro em Olinda. A primeira vez que dançamos no meio da rua (os carros passavam e as senhoras apontavam para a gente, risonhas e saudosas de um tempo romântico de suas vidas que agora lhes parecia tão distante). Nossa primeira noite, num albergue a caminho de Borocatu. A primeira vez que falei com você num tom sarcástico (primeira de tantas...). As brigas por você dedicar tempo demais ao trabalho. E, claro... Eduardo! O começo do fim. Meu ciúme doentio, suas lágrimas cansadas, o sexo teso e não prazeroso... E aquele último beijo combinado. Por demais carregado. Um beijo não agüenta tanta carga! Não deveria haver últimos beijos. E, no entanto, naquela hora faria qualquer coisa para sentir seu hálito mais uma vez...

A saudade fez mais uma vez suas provas. Não havia como retê-la. E se por desventura se quisesse ignorá-la, ela se acumularia e o pegaria desprevenido, em algum dia nublado, em algum café do Boulevard St-Michel.

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