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É kinda pretensious dizer que se é artista. Sou menos artista que Bukowski ou Fernando Pessoa. Sou mais artista que Gianechini ou Debora Seco... Somewhere in the middle. Sou atento ao mundo e busco sempre descrevê-lo de alguma forma e com algum tom de lirismo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Jonas e Maria-Cecília

O amor-próprio de Jonas tinha um limite: Maria Cecília.

Tudo se tornara mais bonito desde que Maria Cecília entrara para sua vida. Sua inércia inerente para com as atividades do cotidiano levara uma propulsão sem tamanho. Todos os seus deveres deveriam ser cumpridos no devido prazo. Mais que isso: seus deveres não eram o suficiente. Mais atividades foram arranjadas. Começara até mesmo a escrever sonetos, escutar Bach e procurar trabalho. Havia de ser grande para seu grande amor.
Ligava-lhe a toda hora para saber se estava bem. Lia seus livros preferidos para poder comentá-los com ela mais tarde. Havia criado um sistema com o calendário que gerava datas aleatórias em ciclos imprevisíveis para lhe oferecer ora bombons, ora flores.

Maria Cecília apreciava o namoro deles. Acomodada, recebia todo dia a ligação de Jonas, que nunca faltava ao compromisso. Falava até se cansar e inventava algo para desligar. Recebia seus presentes com o prazer de uma obrigação bem feita e é verdade que, uma vez, ao não ter presente para dar no aniversário de uma amiga sua, reembrulhou a caixa de Ferrero Rocher, trocou o bilhete por um seu e partiu para a festa.

Ora, leitor, é importante não julgar rápido por demais a jovem Maria Cecília. Seu aparente pouco-caso não foi senão o resultado do equilíbrio estabelecido entre os dois desde os primórdios e nenhum é mais responsável que o outro.

Essa rotina durara por mais de ano.
Foi quando veio o avalanche: Jonas a traíra. Mais de uma vez.
Como isto era possível?
Jonas tão bobinho de amor. Tão sujeito à relação deles...
Veio o fim. E o recomeço.
Os dois se gostavam. Haviam se acostumado um ao outro.
E lá estavam os bombons e as flores mais uma vez, a música improvisada no violão, as velas acompanhando um fondue de queijo...

Jonas, se muito dava, também muito cobrava, secretamente. E cada descaso de sua amada lhe doía. Cada palavra a menos, que ela deixava de lhe dizer, era um golpe enorme para si.
Ora, mesmo que Jonas tentasse conquistar um pouco de prestígio de sua namorada, tentasse equilibrar a balança deixando, por exemplo, de ligar para ela e esperando que ela o fizesse, ela não chegava a o fazer antes que ele sucumbisse à ansiedade.
O amor-próprio de Jonas tinha um limite: Maria Cecília.

O enorme vazio que esta situação gerava dentro de si, Jonas tentava compensar no encontro com outras, que lhe davam toda a atenção de uma primeira noite. Toda a atenção que ele precisava.
Muitas meninas passaram por ele – era bonito, fácil de conseguir alguém.
Deitava-se com cada uma delas.
Não podia pensar em Maria-Cecília, pois que senão chorava.
Resolvia o caso de forma rápida, sem amor, nem prazer.

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